Que o Amor e a Paz possam reinar em nossos corações!

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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Serapião (uma estória para refletirmos)

Serapião era um velho mendigo que perambulava pelas ruas da cidade. Ao seu lado, o fiel escudeiro, um vira lata branco e preto, que atendia pelo nome de Malhado. Serapião não pedia dinheiro. Aceitava sempre um pão, uma banana, um pedaço de bolo ou outro alimento qualquer. Quando suas roupas estavam emprestáveis, logo era socorrido por alguma alma caridosa. Mudava a apresentação, e logo era alvo de brincadeiras. O mendigo era conhecido como um homem bom, que perdera a razão, a família, os amigos e até a identidade. Não tomava bebida alcoólica e estava sempre tranquilo, mesmo quando não recebia nenhuma comida. Dizia sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa, e sempre na hora que mais precisava, alguém lhe dava algo para comer. Serapião agradecia, com reverência e louvava a Deus pela pessoa que o ajudava. Tudo o que ganhava, dava primeiro para o Malhado, que paciente, comia e ficava sempre esperando por mais um pouco. Não tinham onde passar as noites: onde anoiteciam, dormiam. Quando chovia, procuravam abrigo embaixo da ponte do ribeirão. Ali Serapião ficava a meditar, com um olhar perdido no horizonte. Aquela figura era intrigante, pois levava uma vida vegetativa, sem desejar progredir , sem esperanças e sem perspectivas de um futuro promissor. Certo dia, um homem com a desculpa de lhe oferecer umas frutas, foi bater um papo com o velho mendigo. Iniciou a conversa falando do Malhado, perguntou pela idade dele, mas Serapião não sabia. Dizia não ter idéia, pois se encontraram num certo dia, quando ambos perambulavam pelas ruas. Nossa amizade começou com um pedaço de pão - disse o mendigo. Ele parecia estar faminto, e eu lhe oferecí um pouco do meu almoço e ele me agradeceu abanando o rabo, e a partir daí, não me largou mais. Ele me ajuda muito e eu retribuo da maneira que posso. Como vocês se ajudam? Perguntou. Ele me vigia enquanto estou dormindo, ninguém pode chegar perto, que ele late e ataca. Também, enquanto ele dorme, eu fico vigiando para que outro cachorro não o incomode. Continuando a conversa, o homem lhe fez uma nova pergunta: - Serapião, você tem algum desejo na vida? - Sim, respondeu ele, tenho vontade de comer um cachorro quente, daqueles que tem na lanchonete da esquina. - Só isso? indagou. É no momento, é só isso que desejo. Pois bem, disse o homem, vou satisfazer agora este seu grande desejo. Saiu e comprou um cachorro quente e o entregou ao velho. Ele arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a grande benção, e em seguida tirou a salsicha, deu para o Malhado, e comeu o pão com os temperos. O homem não entendeu aquele gesto, pois imaginava que a salsicha era o melhor pedaço. - Por que você deu para o Malhado, logo a salsicha? Interrogou, intrigado. Ele, com a boca cheia, respondeu: - Para o melhor amigo, o melhor pedaço. E continuou comendo, alegre e satisfeito, olhando com satisfação para o Malhado, que saboreava a salsicha. O homem se despediu de Serapião, passou a mão na cabeça do Malhado e saiu pensando com seus botões: Aprendí alguma coisa hoje. Como é bom ter amigos. Pessoas em quem possamos confiar, e que também possam confiar em nós. Jamais esquecerei a sabedoria daquele mendigo. E nós? Qual parte temos reservado para nossos amigos?

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